sexta-feira, 24 de junho de 2011

Peter Falk


Hoje, 23 de Junho de 2011, o Mundo ficou mais pobre, com a morte de Peter Falk. Com ele morreu um pouco de todos os que se deliciaram com as suas atuações e personagens, das quais a mais marcante, que ficará para a história da televisão, foi a do detective Colombo.

Peter Falk não foi simplesmente um excelente ator. Foi alguém que, através da sua arte, nos ensinou muito sobre a vida, sobre a natureza humana, sobre o superior valor das coisas simples da vida.

Através da sua personagem mor - Colombo - mostrou-nos não só a importância da inteligência e perspicácia, mas também da humildade, da perseverança, da simplicidade, do respeito pelos outros, da humanidade.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O procurador

Inocêncio tinha um procurador que tratava dos seus negócios, geria o seu dinheiro, assumia compromissos em seu nome. O seu património, arduamente conseguido ao longo de duros anos de trabalho, exigia já uma gestão dedicada, razão pela qual tinha delegado nesse procurador essas funções.

Durante alguns anos tudo estaria a correr normalmente, embora não fossem raros os sobressaltos. De repente, com o agravamento da conjuntura económica, tornou-se claro que o procurador tinha tomado opções terrivelmente erradas, que tinham não só delapidado todo o seu património mas, também, levado à contração de dívidas em montante avultado, muito acima do que poderiam pagar os seus rendimentos.

Os credores começaram, de imediato, a bater-lhe à porta, exigindo o pagamento dos valores em dívida. Também lhe bateram à porta pessoas que lhe queriam emprestar mais dinheiro, naturalmente a juro anormalmente elevado, como forma de compensar o risco.

Tinha que tomar uma decisão e, para sair da situação desesperada em que se encontrava, resolveu apelar para uma instituição financeira, que concordou em emprestar-lhe o dinheiro de que necessitava para se recompor, a um juro razoável. Como única garantia, essa instituição exigiu que tomasse medidas para controlar os seus gastos e passasse a viver de acordo com as suas possibilidades.

Indignado por essas exigências, revoltou-se. Que desplante! Que condições inaceitáveis! Gritou a quem o quis ouvir que não poderia compactuar com tais exigências. Afinal, ainda era dono do seu nariz! Não aceitaria tal pressão.

Estranhamente, no calor da indignação, nunca mais se lembrou de quem o tinha colocado nessa situação e era, afinal, responsável por ela: o seu procurador. Nunca o acusou, nunca lhe pediu contas, talvez porque alguém lhe disse que, no fundo, os negócios estavam maus para toda a gente. Pensou, até, em voltar a convidá-lo para seu procurador assim que o aperto passasse.

Pouco tempo depois, estava na miséria total.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Público ou privado?

Muito se fala, a propósito de assuntos diversos, nas vantagens e desvantagens do que é público ou do que é privado. O problema não é, certamente, as vezes em que se fala do assunto mas sim a manifesta incoerência com que se repetem argumentos feitos, incoerentes ou gastos, ouvidos a este ou aquele ‘fazedor de opinião’, ou a este ou aquele político mais ou menos talentoso.

Por um lado, é quase ponto assente que todos os males do Mundo advêm dos funcionários públicos (classe da qual o autor destas linhas faz parte), raça incompetente e inútil, que só existe para engrossar o peso do Estado. Quão melhor seria se toda a iniciativa fosse privada e se o Estado fosse mínimo! Público: 0. Privado: 1.

Por outro lado, também é ponto assente que não se pode deixar morrer a Escola Pública! Aqui só a coisa pública faz sentido (mesmo que recorrendo à classe abjecta dos funcionários públicos) já que é função do Estado assegurar a educação de todos os cidadãos, coisa que tem descurado bastante nos últimos decénios, a avaliar pelo baixo nível de educação da nossa população. Assim, abaixo as escolas privadas e todos os privilegiados que, pagando os impostos que mantêm a escola pública, ainda pagam para educar os seus filhos. Público: 1. Privado: 1.

E que dizer dos hospitais públicos, que gastam rios de dinheiro dos contribuintes sem que se veja efeito na melhoria dos cuidados de saúde das populações, essa massa amorfa de contribuintes e votantes? Aqui é claramente necessária a privatização, os hospitais-empresa, já que a incompetência pública é, agora sim, definitivamente, ponto assente. Público: 1. Privado: 2.

Mas não nos estaremos a esquecer das parcerias publico-privadas? Não seria através delas que os privados iriam salvar, de uma vez por todas, o País do atraso provocado pela coisa pública, sorvedora de fundos sem fim? Afinal parece que não! Ruinosa foi mesmo a decisão de recorrer aos privados. Público: 2. Privado: 2.

Quando perceberemos nós que o diz e não diz deste ou daquele tem muito mais a ver com o interesse momentâneo de quem o diz do que com alguma razão objectiva? Quando perceberemos que, na gestão de recursos e bens, o essencial – e o mais importante – não é saber se quem gere ou quem faz é público ou privado, mas sim se quem gere ou quem faz é competente, eficiente e eficaz? É tempo para, de uma vez por todas, abrirmos os olhos e pensarmos pela nossa própria cabeça!