Decorrem, neste ano de 2010, as comemorações do centenário da implantação da República. Até agora, o que há de saliente nessas comemorações é o facto de passarem despercebidas ao comum cidadão. Há uma quase total ausência de entusiasmo acerca dessas comemorações e só se houve falar delas quando um ou outro político, numa qualquer cerimónia, explora esse facto na expectativa de alegrar o discurso.
Afinal, pouco há a comemorar. O que aconteceu nos últimos 100 anos? De 1910 a 1926 a instabilidade politica e o caos foram constantes – prontamente atribuídos à conjuntura internacional – deitando por terra todas promessas largamente apregoadas pelos idealistas republicanos. De 1926 a 1974 tivemos quarenta e oito anos de repressão, pobreza, subdesenvolvimento e atraso. De 1974 a 1986 sucedeu-se um novo período de instabilidade, insegurança e incerteza, só ultrapassado com a adesão à União Europeia.
Vivemos em democracia, é certo, e isso é um valor inestimável. Tirando isso, nunca como agora houve tanta injustiça social, tantos privilégios injustificados, tantas diferenças entre ricos e pobres, tanto desemprego, tantas pessoas no limiar da pobreza ou abaixo dele, tanta agitação social, tantas situações desesperadas e tanta insensibilidade.
De facto, pouco ou nada parece existir que valha a pena comemorar em Portugal. Mas se isso levanta a moral deste nosso país, que se comemorem então os 100 anos da República, ainda que mais pelo número em si – que é redondo e bonito – do que pelos resultados que a República nos trouxe. À falta de melhor, ao menos que sirva esse facto de pretexto para que se comemore alguma coisa.
A vaca expiatória
Há 4 anos