Só em poucos momentos da nossa história, todos eles longínquos, tivemos, como país, a visão e a sorte de tomar decisões a pensar no medio ou longo prazo. São, diria eu, aqueles “acidentes” típicos da genética, nos quais um indivíduo sofre mutações de forma a que possam ser exploradas novas vias de evolução. Mas a verdade é que a nossa “genética”, a dos portugueses, é a do status quo, a do imediato, a do horizonte visível que afeta o dia-a-dia e não mais do que isso.
Por isso sempre nos preocupámos muito mais com o preço da mão-de-obra
do que com ela própria, com o “comerciozinho” do que com o desenvolvimento, com
a cobrança do imposto do que com o progresso geral, com a geração que detém o
poder do que com as que a precederam e as que se lhe seguem, com os interesses
dos grandes do que com os interesses da nação.
Disso é exemplo a educação. Muitas vezes tivemos excelentes cientistas,
que se destacaram no mundo, mas nunca investimos verdadeiramente na educação generalizada.
O resultado é um atraso crónico do país, que não é de agora mas que também existe
agora e continuará por muito tempo. A educação de um povo sai muito cara, exige recursos importantes que são
necessários para outras áreas, dirão uns. Mas o que é certo é que a não educação
sai muitíssimo mais cara e condena o país a ir na cauda do progresso dos
outros, arrastado por eles e pagando fortunas para isso.
Outro exemplo é o do desinvestimento nas pessoas. Pensa-se nas grandes
empresas, nos grandes interesses económicos, nas “áreas estratégicas”, e tudo
se sacrifica a esses valores. Pobre é o país que não entende que estratégicas
são as pessoas. Por muito que ilustres economistas (aos quais devemos as crises
nacionais e internacionais que assolam o mundo de hoje) o digam, um país não é
nem pode ser uma empresa (e muito menos a empresa para a qual esses economistas
trabalham). Um país são as pessoas que lhe dão corpo e vida, que o fazem
funcionar e lhe dão sentido. E por isso todos contam: recém-nascidos, jovens,
adultos, idosos. Todos fazem o país avançar. Mas quando veremos nós em Portugal políticos e políticas centrados nos cidadãos, mais do que no contribuinte e nas "endeusadas" empresas?
São, entendo, conceitos que muitos considerarão completamente errados.
Se não fosse assim não estávamos como estamos. Como se pode pedir a uma pessoa
de vistas curtas que veja para lá dos poucos metros que alcança? Como se lhes
pode explicar que todos pagamos um preço demasiado alto por essas vistas curtas
e que esse preço é o atraso que, é certo, beneficia uns poucos mas que atrofia
o país inteiro?