sábado, 5 de dezembro de 2015

O obstáculo


Gostava muito de viver num país que tivesse uma fundação que apoiasse a ciência e a tecnologia, que verdadeiramente a incentivasse, que ajudasse cientistas e investigadores a explorarem todo o seu potencial que, frequentemente, só é explorado e valorizado quando eles se encontram fora do país. Aí sim, quando emigram para outras terras que lhes dão condições e se destacam, é fácil dizer que os nossos cientistas são excelentes.

Em vez disso, o que eu vejo é uma burocratização da ciência e da tecnologia, que por vezes chega à raia da tirania processual, em que se obriga investigadores a executar todo o tipo de manobras administrativas, em que se lhes castiga com relatórios sem sentido, em que se antevê como que um deleite extremo (há outra palavra para isto, claro) em encontrar um obstáculo inultrapassável, sempre burocrático, à necessária liberdade e imprevisibilidade da ciência, em descobrir que determinado procedimento não foi seguido, em chegar à conclusão de que determinada despesa não é elegível porque não foi prevista quatro anos atrás quando a proposta de projeto foi submetida. Que delícia! Isso é que é fazer avançar o país!

Infelizmente, vê-se muito disto por estas bandas, em muitos setores (ou sectores, como se escrevia antigamente). Muitos serviços, e respetivos agentes, existem para levantar obstáculos, não para apoiar, não para resolver problemas, não para encontrar soluções ou para melhorar o que seja. É mau em todas as áreas, mas creio que na área da ciência é terrivelmente prejudicial. Estamos na era da ciência e da tecnologia. Pobre é o país que não investe nelas ou que lhes levanta obstáculos continuamente, pois essa é a melhor forma de deixar que outros decidam o seu futuro.