sábado, 15 de janeiro de 2011

Público ou privado?

Muito se fala, a propósito de assuntos diversos, nas vantagens e desvantagens do que é público ou do que é privado. O problema não é, certamente, as vezes em que se fala do assunto mas sim a manifesta incoerência com que se repetem argumentos feitos, incoerentes ou gastos, ouvidos a este ou aquele ‘fazedor de opinião’, ou a este ou aquele político mais ou menos talentoso.

Por um lado, é quase ponto assente que todos os males do Mundo advêm dos funcionários públicos (classe da qual o autor destas linhas faz parte), raça incompetente e inútil, que só existe para engrossar o peso do Estado. Quão melhor seria se toda a iniciativa fosse privada e se o Estado fosse mínimo! Público: 0. Privado: 1.

Por outro lado, também é ponto assente que não se pode deixar morrer a Escola Pública! Aqui só a coisa pública faz sentido (mesmo que recorrendo à classe abjecta dos funcionários públicos) já que é função do Estado assegurar a educação de todos os cidadãos, coisa que tem descurado bastante nos últimos decénios, a avaliar pelo baixo nível de educação da nossa população. Assim, abaixo as escolas privadas e todos os privilegiados que, pagando os impostos que mantêm a escola pública, ainda pagam para educar os seus filhos. Público: 1. Privado: 1.

E que dizer dos hospitais públicos, que gastam rios de dinheiro dos contribuintes sem que se veja efeito na melhoria dos cuidados de saúde das populações, essa massa amorfa de contribuintes e votantes? Aqui é claramente necessária a privatização, os hospitais-empresa, já que a incompetência pública é, agora sim, definitivamente, ponto assente. Público: 1. Privado: 2.

Mas não nos estaremos a esquecer das parcerias publico-privadas? Não seria através delas que os privados iriam salvar, de uma vez por todas, o País do atraso provocado pela coisa pública, sorvedora de fundos sem fim? Afinal parece que não! Ruinosa foi mesmo a decisão de recorrer aos privados. Público: 2. Privado: 2.

Quando perceberemos nós que o diz e não diz deste ou daquele tem muito mais a ver com o interesse momentâneo de quem o diz do que com alguma razão objectiva? Quando perceberemos que, na gestão de recursos e bens, o essencial – e o mais importante – não é saber se quem gere ou quem faz é público ou privado, mas sim se quem gere ou quem faz é competente, eficiente e eficaz? É tempo para, de uma vez por todas, abrirmos os olhos e pensarmos pela nossa própria cabeça!