segunda-feira, 2 de maio de 2011

O procurador

Inocêncio tinha um procurador que tratava dos seus negócios, geria o seu dinheiro, assumia compromissos em seu nome. O seu património, arduamente conseguido ao longo de duros anos de trabalho, exigia já uma gestão dedicada, razão pela qual tinha delegado nesse procurador essas funções.

Durante alguns anos tudo estaria a correr normalmente, embora não fossem raros os sobressaltos. De repente, com o agravamento da conjuntura económica, tornou-se claro que o procurador tinha tomado opções terrivelmente erradas, que tinham não só delapidado todo o seu património mas, também, levado à contração de dívidas em montante avultado, muito acima do que poderiam pagar os seus rendimentos.

Os credores começaram, de imediato, a bater-lhe à porta, exigindo o pagamento dos valores em dívida. Também lhe bateram à porta pessoas que lhe queriam emprestar mais dinheiro, naturalmente a juro anormalmente elevado, como forma de compensar o risco.

Tinha que tomar uma decisão e, para sair da situação desesperada em que se encontrava, resolveu apelar para uma instituição financeira, que concordou em emprestar-lhe o dinheiro de que necessitava para se recompor, a um juro razoável. Como única garantia, essa instituição exigiu que tomasse medidas para controlar os seus gastos e passasse a viver de acordo com as suas possibilidades.

Indignado por essas exigências, revoltou-se. Que desplante! Que condições inaceitáveis! Gritou a quem o quis ouvir que não poderia compactuar com tais exigências. Afinal, ainda era dono do seu nariz! Não aceitaria tal pressão.

Estranhamente, no calor da indignação, nunca mais se lembrou de quem o tinha colocado nessa situação e era, afinal, responsável por ela: o seu procurador. Nunca o acusou, nunca lhe pediu contas, talvez porque alguém lhe disse que, no fundo, os negócios estavam maus para toda a gente. Pensou, até, em voltar a convidá-lo para seu procurador assim que o aperto passasse.

Pouco tempo depois, estava na miséria total.