quarta-feira, 8 de junho de 2016

Usados por uns e esquecidos por muitos

Já várias vezes expressei a minha opinião – aqui e noutros fora – acerca do papel que um Estado deve ter em determinadas áreas, sejam elas lucrativas ou não. Em meu entender, a atuação de um Estado deve reger-se sempre e só pelo interesse público, pois é para isso que os estados existem: salvaguardar o interesse geral, em detrimento, sempre que seja necessário optar, de eventuais interesses particulares. 

É por isso que, por exemplo, nunca entendi as políticas que estabelecem que tudo o que dá lucro tem que ser privatizado, deixando ao Estado o que dá prejuízo, para, logo a seguir, se apontar o Estado como um péssimo exemplo pois tudo o que assegura é deficitário e só sobrecarrega os cidadãos. Além disso, muitas privatizações não passam de vendas de capital a empresas total ou parcialmente detidas por outros Estados, o que parece querer dizer que o Estado Português é que é o problema. Por fim, e para cúmulo, as “novas” empresas privadas continuam a explorar e utilizar muitos recursos do País, que deveriam ser de todos nós, como terrenos, propriedades e espaços públicos e privados, água e cursos de água, sol, vento, etc.

Não vou falar, desta vez, no caso dos bancos, que só são privados quando a coisa corre bem mas que, quando corre mal, têm que ser salvos por recursos públicos que agravam o défice e são pagos pelos impostos de todos nós. Afinal, o Estado é bom ou mau? Venha o Diabo e diga de sua justiça.

Mas se é certo que nem tudo o que o Estado faz é mau, também é certo que nem tudo o que os privados fazem o é. Digo isto a propósito da última moda política, que é a de que há que defender a Escola Pública, e tudo o resto é um bando de “chupistas”. Vi ânimos muito exaltados a favor e contra, posições extremadas em políticos que julgava mais inteligentes, artigos escritos em tom triunfal reclamando a descoberta da verdade absoluta, insultos em redes sociais.

É curioso o que certos temas podem suscitar. Fala-se em cortar gorduras do Estado, em poupar dinheiro, e eis que tudo fica em alvoroço, apesar de os valores em causa quase serem “trocos” quando comparados com outras áreas privatizadas. Mais ainda, será difícil contabilizar o que se ganha e o que se perde com mudanças do ensino público para o privado e vice-versa. Havendo mais alunos no setor público, haverá que contratar mais professores. Os que forem despedidos do ensino privado e não tiverem lugar no ensino público irão para o desemprego e terão que ser pagos durante o período de duração do respetivo subsídio. De facto, estas mudanças, sejam num sentido ou noutro, têm sempre custos, pelo que o melhor seria fazê-las gradualmente, minimizando perturbações. Uma coisa é certa e parece não ter sido entendida nem por políticos nem pelo público em geral: os custos são ditados pelo número de alunos e esse número de alunos permanece igual, pois todos eles têm direito à educação.


Bom, não se entenda disto que apenas olho para esta questão como uma questão de dinheiro, ou que sou a favor ou contra o ensino público ou o ensino privado. Toda a minha vida frequentei escolas públicas. As minhas filhas tanto andaram no ensino privado como no público, e a minha mulher tanto lecionou num como noutro. Creio, no fundo, que o que importa verdadeiramente são os alunos e esses, no fragor da luta política, são usados por uns e esquecidos por muitos.