Nunca entendi essa espécie de histeria coletiva – quer dos media, quer do
público quer, também, de muitos agentes do Ensino – que surge quando se
publicam os “rankings das escolas”. De
facto, talvez o mais correto seja começar pelo princípio e dizer que o que eu
não entendo, verdadeiramente, é que se façam rankings de escolas de uma forma
tão leviana como se faz em Portugal, pois tal me parece um desrespeito pelo
trabalho de milhares de professores e alunos.
Dizer que uma escola é melhor ou pior porque os seus alunos têm
melhores ou piores notas em exames finais é, no mínimo, de um simplismo
confrangedor e dá uma ideia completamente errada do que deve ser o sistema de
ensino. Não quero entrar no tema da inflação artificial de notas – que existe –
nem de vários outros ‘truques’ para subir a qualquer preço no ditoso ranking,
que são efeitos colaterais de um sistema de valorização centrado num único
parâmetro, pois creio que é mais importante tentar perceber a irracionalidade
de classificar e ordenar escolas desta forma.
Um ranking faria algum sentido se as escolas competissem umas com as
outras, se pudessem escolher os seus docentes e os seus alunos, se uma décima a
mais ou a menos na classificação final de um aluno fizesse a diferença entre
estar melhor ou pior preparado para a vida, se todos os alunos fossem unidades
iguais e não seres humanos com as suas diferenças e a sua variedade e,
sobretudo, se a qualidade global do ensino se medisse meramente pelas
classificações finais obtidas pelos alunos.
É claro que há uma minoria de escolas que competem com outras. São, em
geral, escolas privadas, e fazem-no primeiramente por questões de mercado, já
que quanto “melhores” forem os resultados dos seus alunos mais seletivas podem
ser e mais podem cobrar. É a velha lei da oferta e da procura. Mas se é certo
que isso funciona para uma franja muito reduzida da população, não me parece que
deva ser esse o objetivo de um sistema de ensino que pretende servir o país.
Quanto às outras escolas – das quais as públicas são a esmagadora
maioria – não escolhem os seus professores nem os seus alunos, limitando-se a
trabalhar com o que os concursos nacionais de docentes e a área de residência
dos alunos ditam. Portanto, que tipo de competição pode haver? Está uma escola
de Bragança a competir com uma de Évora? Para quê? A que título?
E depois há a questão da nota de exame! Sempre tivemos um certo fascínio
por reduzir as coisas a números, a estatísticas, a reduzir a realidade a um
indicador que tudo encerra e tudo significa. Para isto em muito contribui
aquela miragem da nota de entrada (no ensino superior, naturalmente), como se o
importante e mais difícil fosse entrar num curso quando, de facto, o mais
difícil é sair dele.
E com tudo isto esquecemo-nos que uma escola que consegue que alunos
que noutras escolas estariam condenados ao fracasso sejam bem sucedidos, ainda
que com classificações modestas, que desperta nos alunos o interesse por aprender,
resolver problemas e adaptar-se a novas situações, que os torna socialmente ativos
e úteis, que lhes incute uma atitude positiva perante a vida, é, provavelmente,
a melhor escola.